UMA REFLEXÃO BEM ATUAL
Eu não sou espírita (nem sou de religião nenhuma) mas
simpatizo muito com a teoria kardecista de que a Terra seria um “planeta de
expiação” (embora deteste este termo), ou seja, de que aqui seria um
laboratório, uma escola, onde viemos para lapidar e burilar nossa natureza
humana ainda cheia de imperfeições, raivas, tristezas, apegos, invejas e
ciúmes.
E nesse sentido, a impressão que dá é a de que, apesar
dos imensos avanços tecnológicos que houveram ao longo da história da humanidade,
muito pouco se avançou na área da ética, da moral, da compaixão e da
fraternidade.
Me parece que um dos indicativos interessantes de ser
considerado, é o fato de que ao longo da história do homem na Terra,
inumeráveis pessoas iluminadas – como foram Jesus e Buddha, por exemplo –
vieram sistematicamente para falar exatamente a mesma coisa.
Quando olho para trás e vejo o desenrolar da vida humana
na Terra, me ocorre sempre a pergunta: “Em que fase da vida humana houve realmente
fraternidade entre os povos, amor ao próximo, ausência de guerras e de
dominação do homem sobre o homem?”.
Me parece que fora episódios isolados e temporários, em
nenhum momento houve a tão sonhada plena harmonia e equilíbrio no planeta.
E talvez equilíbrio seja uma palavra chave, na medida em
que estar errado é muito diferente de estar desequilibrado (os orientais tinham
uma visão bem clara disso, entendendo profundamente a natureza auto reguladora
do Universo).
Então talvez nossa função aqui não seja salvar nada nem
consertar nada, já que ninguém tem cacife – em função da imensa complexidade da
existência - para afirmar que o que ocorre no planeta hoje e sempre esteja ambiental
ou humanamente errado.
Vendo sob um aspecto religioso, seria como ter que considerar
que Deus se enganou ou se distraiu, ou que Deus é vingativo e punidor, ou pior,
que Satanás existe e está aí tentando sacanear o projeto divino ao menor
descuido nosso...
Talvez o grande desafio humano seja muito mais complexo e
difícil do que ficar exaustivamente tentando consertar o que acha que está
errado, e talvez seja muito mais instigador do que ficar sentado esperando complacentemente
(ou preguiçosamente) que as mudanças caiam do céu.
Creio que livros como o “Tao Te King” e a “Bhagavad Gita”
são manuais poderosos que versam exatamente sobre esta difícil temática : a
ciência da ação na inação e da inação na ação.
Ou seja, talvez não estejamos aqui para usar nossa
inteligência e nosso poder de agir para mudar nada externamente, e sim para
mudar internamente aproveitando todo o treinamento, os testes e as provas que a
vida oferece em seu dinâmico laboratório cheio de desequilíbrios (que não estão
propriamente errados).
Talvez o nosso “fazer” devesse ser aplicado no sentido de
inteligentemente e relaxadamente se fazer pelo fazer, simplesmente porque fazer
é inevitável (segundo os orientais o fazer faz-se por si mesmo).
Mas não necessariamente para mudar o que está
hipoteticamente errado, e sim para aproveitar o grosso caldo de injustiças,
ódios, guerras, etc.etc. como precioso material de trabalho interno.
E isso se dá em função da percepção - que deveria ser
óbvia - de que único setor onde temos efetivamente poder de mudança real, é o
setor interno do nosso ser.
Talvez devessemos desmontar esse pensamento prepotente e
arrogante de que sabemos o que está errado no mundo e nas pessoas, e de que
temos poder de mudar tudo isso, e pior, de que sabemos como é ser o certo.
E como disse, o desafio é extremamente complexo : agir
com a competência de quem pode mudar alguma coisa mas com a consciência de que
não se está aqui para mudar nada além de
si mesmo, e de que – e acho que esta é a grande chave, o grande segredo - as
mudanças externas estão inexoravelmente ligadas às mudanças internas.
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