quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

UMA REFLEXÃO BEM ATUAL

Eu não sou espírita (nem sou de religião nenhuma) mas simpatizo muito com a teoria kardecista de que a Terra seria um “planeta de expiação” (embora deteste este termo), ou seja, de que aqui seria um laboratório, uma escola, onde viemos para lapidar e burilar nossa natureza humana ainda cheia de imperfeições, raivas, tristezas, apegos, invejas e ciúmes.

E nesse sentido, a impressão que dá é a de que, apesar dos imensos avanços tecnológicos que houveram ao longo da história da humanidade, muito pouco se avançou na área da ética, da moral, da compaixão e da fraternidade.

Me parece que um dos indicativos interessantes de ser considerado, é o fato de que ao longo da história do homem na Terra, inumeráveis pessoas iluminadas – como foram Jesus e Buddha, por exemplo – vieram sistematicamente para falar exatamente a mesma coisa.

Quando olho para trás e vejo o desenrolar da vida humana na Terra, me ocorre sempre a pergunta: “Em que fase da vida humana houve realmente fraternidade entre os povos, amor ao próximo, ausência de guerras e de dominação do homem sobre o homem?”.

Me parece que fora episódios isolados e temporários, em nenhum momento houve a tão sonhada plena harmonia e equilíbrio no planeta.

E talvez equilíbrio seja uma palavra chave, na medida em que estar errado é muito diferente de estar desequilibrado (os orientais tinham uma visão bem clara disso, entendendo profundamente a natureza auto reguladora do Universo).

Então talvez nossa função aqui não seja salvar nada nem consertar nada, já que ninguém tem cacife – em função da imensa complexidade da existência - para afirmar que o que ocorre no planeta hoje e sempre esteja ambiental ou humanamente errado.

Vendo sob um aspecto religioso, seria como ter que considerar que Deus se enganou ou se distraiu, ou que Deus é vingativo e punidor, ou pior, que Satanás existe e está aí tentando sacanear o projeto divino ao menor descuido nosso...

Talvez o grande desafio humano seja muito mais complexo e difícil do que ficar exaustivamente tentando consertar o que acha que está errado, e talvez seja muito mais instigador do que ficar sentado esperando complacentemente (ou preguiçosamente) que as mudanças caiam do céu.

Creio que livros como o “Tao Te King” e a “Bhagavad Gita” são manuais poderosos que versam exatamente sobre esta difícil temática : a ciência da ação na inação e da inação na ação.

Ou seja, talvez não estejamos aqui para usar nossa inteligência e nosso poder de agir para mudar nada externamente, e sim para mudar internamente aproveitando todo o treinamento, os testes e as provas que a vida oferece em seu dinâmico laboratório cheio de desequilíbrios (que não estão propriamente errados).

Talvez o nosso “fazer” devesse ser aplicado no sentido de inteligentemente e relaxadamente se fazer pelo fazer, simplesmente porque fazer é inevitável (segundo os orientais o fazer faz-se por si mesmo).

Mas não necessariamente para mudar o que está hipoteticamente errado, e sim para aproveitar o grosso caldo de injustiças, ódios, guerras, etc.etc. como precioso material de trabalho interno.

E isso se dá em função da percepção - que deveria ser óbvia - de que único setor onde temos efetivamente poder de mudança real, é o setor interno do nosso ser.

Talvez devessemos desmontar esse pensamento prepotente e arrogante de que sabemos o que está errado no mundo e nas pessoas, e de que temos poder de mudar tudo isso, e pior, de que sabemos como é ser o certo.

E como disse, o desafio é extremamente complexo : agir com a competência de quem pode mudar alguma coisa mas com a consciência de que não se  está aqui para mudar nada além de si mesmo, e de que – e acho que esta é a grande chave, o grande segredo - as mudanças externas estão inexoravelmente ligadas às mudanças internas.




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