sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

REFLEXÕES SOBRE O PERDÃO

O perdão é considerado por praticamente todas as religiões e escolas espiritualistas e terapêuticas como uma das mais importantes e fundamentais virtudes a serem desenvolvidas e praticadas pelos seres humanos.

Mas eu queria colocar aqui a minha opinião sobre este assunto para instigar uma maior reflexão sobre este tema:

Acho muito interessante que duas das vertentes de auto conhecimento e de cura que adotei na minha vida – pessoal e profissional - tenham uma concepção diferente sobre o perdão: as Constelações Familiares e o Hoponopono.

A primeira, uma técnica terapêutica sistêmica e fenomenológica criada pelo terapeuta alemão Bert Hellinger em função de sua intensa (e extensa) experiência com várias linhas de psicoterapia e de sua vivência como missionário entre os zulus na África.

A segunda, uma técnica de cura xamânica derivada do xamanismo Kahuna do Hawai, redesenhada pela curadora havaiana Mornah Simeona e popularizada pelo dr. I.H.Len.

Ambas utilizam a expressão “Sinto muito”.

No Hoponopono quando se pede perdão, é à Divindade interna que se pede, pois a Divindade é a única instância universal que pode nos outorgar o perdão.

Nós não temos o poder de absolver ninguém, que é isso a que o perdão parece se propor.
Só Deus (independente de como O concebamos) pode nos perdoar, e assim nos absolver.

Ao outro e a nós mesmos dizemos “Sinto muito”.

Pelo menos foi assim que entendi esta técnica e é assim que a utilizo e a ensino nos meus cursos.

Se eu entendo que o Universo é uma instância consciente e inteligente como uma grande teia holográfica e sistêmica onde cada ser e cada coisa estão profunda e abrangentemente interligados de forma totalmente interdependente e interagente; e se entendo que quem quer que seja Deus, está, antes de mais nada, presente no âmago de cada ser e cada coisa existente, me parece que esta Inteligência em nós atrai os exercícios, provas e testes perfeitamente necessários para o nosso crescimento e evolução.

Isso desmonta a velha ideia de culpado X vítima que aprendemos em função das religiões que acreditam na guerra do Bem contra o mal e que acreditam que já nascemos pecadores e culpados.

Então, se o nosso encontro humano com o outro (que foi kármicamente pré combinado e pré contratado por nós) não funcionou evolutivamente como deveria e provocou sofrimento para nós, provavelmente foi porque este acabou sendo o jeito que deu prá se fazer.

Foi  portanto, o melhor que pudemos fazer naquele momento, dentro das nossas limitações e imperfeições humanas.

Se for muito absurda para você essa história de se pré contratar e pré combinar, vamos pensar em um Universo multidimensional, em uma realidade que as culturas antigas e a moderna Física Quântica reconhecem extrapolar as conhecidas quatro dimensões (espaço e tempo).

Se considerarmos que quando nascemos esquecemos tudo o que vivemos nas nossas vidas passadas, que quando dormimos ao acordarmos esquecemos tudo o que fizemos nas outras dimensões enquanto o corpo dormia, e que ainda temos 90% de nosso psiquismo funcionando de forma inconsciente, podemos perfeitamente considerar que combinamos e contratamos as nossas experiências e exercícios evolutivos nestas outras dimensões que depois são esquecidas quando afundamos novamente na chamada vida consciente.

É importante entender também que sentimento de culpa é diferente de ter culpa.

Sentimento de culpa é o nome que damos ao fato de que estamos sofrendo por termos feito alguém sofrer. Denota boa educação, bom caráter e bom coração.

Mas efetivamente ter culpa não existe, já que o que ocorreu entre nós foi um evento em que ambas as partes são co-responsáveis.

Troca-se aí então a culpa pela responsabilidade.

E “Sinto muito” traz esta perspectiva.

Traz a consciência de que fizemos o melhor que podíamos, embora não tenha funcionado bem, e que se diferente ou melhor pudéssemos ter feito, óbviamente que nós o teríamos feito.

Então, eu realmente sinto muito pelo que aconteceu entre nós. Sinto muito pelo que eu fiz e/ou falei (ou pelo que não fiz e/ou não falei) e que provocou sofrimento.
E esta atitude nos nivela.

Perdoar desnivela, pois coloca o “perdoador” superior ao “perdoado”.

E além do mais, seria muito fácil se perdoar alguém se isto se resumisse mágicamente a apenas se pronunciar palavras, que é o acontece na maior parte das vezes.

Diz-se que se perdoa mas a coisa ainda fica ruminando por dentro.

Desta forma, o mais inteligente e eficaz seria tratar isso dentro de nós mesmos, já que somos co-responsáveis pelo que o outro fez conosco.

E também pela simples e óbvia razão de que só temos o poder de mudar e de curar a nós mesmos, e não ao outro.

ERNANI FORNARI


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