REFLEXÕES SOBRE O PERDÃO
O perdão é considerado por praticamente todas as
religiões e escolas espiritualistas e terapêuticas como uma das mais
importantes e fundamentais virtudes a serem desenvolvidas e praticadas pelos
seres humanos.
Mas eu queria colocar aqui a minha opinião sobre este
assunto para instigar uma maior reflexão sobre este tema:
Acho muito interessante que duas das vertentes de auto
conhecimento e de cura que adotei na minha vida – pessoal e profissional -
tenham uma concepção diferente sobre o perdão: as Constelações Familiares e o
Hoponopono.
A primeira, uma técnica terapêutica sistêmica e
fenomenológica criada pelo terapeuta alemão Bert Hellinger em função de sua
intensa (e extensa) experiência com várias linhas de psicoterapia e de sua
vivência como missionário entre os zulus na África.
A segunda, uma técnica de cura xamânica derivada do
xamanismo Kahuna do Hawai, redesenhada pela curadora havaiana Mornah Simeona e
popularizada pelo dr. I.H.Len.
Ambas utilizam a expressão “Sinto muito”.
No Hoponopono quando se pede perdão, é à Divindade
interna que se pede, pois a Divindade é a única instância universal que pode nos
outorgar o perdão.
Nós não temos o poder de absolver ninguém, que é isso a
que o perdão parece se propor.
Só Deus (independente de como O concebamos) pode nos perdoar,
e assim nos absolver.
Ao outro e a nós mesmos dizemos “Sinto muito”.
Pelo menos foi assim que entendi esta técnica e é assim
que a utilizo e a ensino nos meus cursos.
Se eu entendo que o Universo é uma instância consciente e
inteligente como uma grande teia holográfica e sistêmica onde cada ser e cada
coisa estão profunda e abrangentemente interligados de forma totalmente interdependente
e interagente; e se entendo que quem quer que seja Deus, está, antes de mais
nada, presente no âmago de cada ser e cada coisa existente, me parece que esta
Inteligência em nós atrai os exercícios, provas e testes perfeitamente necessários
para o nosso crescimento e evolução.
Isso desmonta a velha ideia de culpado X vítima que
aprendemos em função das religiões que acreditam na guerra do Bem contra o mal
e que acreditam que já nascemos pecadores e culpados.
Então, se o nosso encontro humano com o outro (que foi
kármicamente pré combinado e pré contratado por nós) não funcionou
evolutivamente como deveria e provocou sofrimento para nós, provavelmente foi porque
este acabou sendo o jeito que deu prá se fazer.
Foi portanto, o
melhor que pudemos fazer naquele momento, dentro das nossas limitações e
imperfeições humanas.
Se for muito absurda para você essa história de se pré
contratar e pré combinar, vamos pensar em um Universo multidimensional, em uma
realidade que as culturas antigas e a moderna Física Quântica reconhecem
extrapolar as conhecidas quatro dimensões (espaço e tempo).
Se considerarmos que quando nascemos esquecemos tudo o
que vivemos nas nossas vidas passadas, que quando dormimos ao acordarmos
esquecemos tudo o que fizemos nas outras dimensões enquanto o corpo dormia, e
que ainda temos 90% de nosso psiquismo funcionando de forma inconsciente,
podemos perfeitamente considerar que combinamos e contratamos as nossas experiências
e exercícios evolutivos nestas outras dimensões que depois são esquecidas
quando afundamos novamente na chamada vida consciente.
É importante entender também que sentimento de culpa é
diferente de ter culpa.
Sentimento de culpa é o nome que damos ao fato de que
estamos sofrendo por termos feito alguém sofrer. Denota boa educação, bom
caráter e bom coração.
Mas efetivamente ter culpa não existe, já que o que
ocorreu entre nós foi um evento em que ambas as partes são co-responsáveis.
Troca-se aí então a culpa pela responsabilidade.
E “Sinto muito” traz esta perspectiva.
Traz a consciência de que fizemos o melhor que podíamos, embora
não tenha funcionado bem, e que se diferente ou melhor pudéssemos ter feito,
óbviamente que nós o teríamos feito.
Então, eu realmente sinto muito pelo que aconteceu entre
nós. Sinto muito pelo que eu fiz e/ou falei (ou pelo que não fiz e/ou não
falei) e que provocou sofrimento.
E esta atitude nos nivela.
Perdoar desnivela, pois coloca o “perdoador” superior ao
“perdoado”.
E além do mais, seria muito fácil se perdoar alguém se
isto se resumisse mágicamente a apenas se pronunciar palavras, que é o acontece
na maior parte das vezes.
Diz-se que se perdoa mas a coisa ainda fica ruminando por
dentro.
Desta forma, o mais inteligente e eficaz seria tratar
isso dentro de nós mesmos, já que somos co-responsáveis pelo que o outro fez
conosco.
E também pela simples e óbvia razão de que só temos o
poder de mudar e de curar a nós mesmos, e não ao outro.
ERNANI FORNARI
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