REFLEXÕES SOBRE PROSPERIDADE E VALOR
Não para polemizar, mas para abrir um espaço de reflexão,
vou lançar aqui umas questões e as minhas opiniões sobre elas, já que este é um
assunto complexo e cheio de mal entendidos:
- Você é do tipo que acha que dinheiro é um vil metal
feio e sujo e que é a causa dos males da Humanidade?
- Você tem vergonha de cobrar pelo seu trabalho? Acha
feio cobrar de amigos? Acha que dinheiro polui a amizade? Acha que o que é de
graça é mais bacana do que o que é cobrado?
- Acha que pobre é mais bacana do que rico? E que todo o rico
é necessariamente mercenário e explorador? Acha que a busca pela prosperidade é
sinônimo de ambição e ganância?
- Acha que dar é mais nobre que receber? Que fazer pelo
outro é mais importante que fazer por você? Que dar o que falta é mais nobre
que dar o que sobra?
Então aí vão as minhas reflexões (sem a intenção de ser
dono da verdade, por favor!):
- Acho que se o padrão de troca que se instituiu no mundo
ao invés de papel moeda fosse, por exemplo, troca mesmo de uma coisa (produto
ou serviço) por outra, com toda a certeza haveria da mesma forma a exploração
do homem pelo o homem, máfia, tráfico, etc.etc que existe hoje.
Me parece que o problema dos chamados males do mundo é a
mente humana, é o nível evolutivo em que se encontra nossa Humanidade (que
Kardec chamou de Planeta de Expiação).
Um swami da India que me é muito querido dizia que se
Deus consertasse tudo e nos devolvesse um planeta zerinho, nós outra vez
faríamos tudo igual de novo e rapidinho teríamos os mesmos problemas que temos
hoje. .
Então com toda a
certeza a questão central não é exatamente o dinheiro, e sim o VALOR.
Já reparou que religiões e ditaduras sempre mexem nesse
valor para poder dominar?
Dinheiro e sexo acabam sempre sendo demonizados, pois
vem de uma mesma fonte: vem do potencial inerente ao homem de ser plenamente livre,
criativo, produtivo e próspero.
E alguém plenamente livre, criativo e próspero não pode
ser dominado por ninguém.
Dinheiro é, neste nosso planeta, o retorno que recebemos
pelo fruto do nosso trabalho (que é fruto do nosso conhecimento e das nossas
capacidades e talentos).
E sexo é o poder de procriar e de estabelecer uma vida plenamente
prazerosa e energeticamente equilibrada. Pelo menos deveria ser...
- Uma das coisas que acho muito gratificante quando
compro algum produto ou algum serviço de um amigo, é poder pagá-lo. Me dá muito
prazer poder retribuir com o que se convencionou ser o padrão de troca –
dinheiro – o trabalho do meu amigo.
E por ser meu amigo me dá muito mais prazer ainda poder ter
a oportunidade de pagá-lo e assim retribuir seu talento, esforço, conhecimento
e trabalho.
Já que pagar com dinheiro é o padrão de troca vigente,
porque dar sal ou cereais ou vacas, por exemplo, seria mais nobre?
Da mesma forma, me sinto muito tranquilo em poder cobrar
pelo meu trabalho, sem vergonhas nem constrangimentos, inclusive dos amigos, se
for o caso.
Afinal, gastei um
bocado de tempo, neurônios e grana prá poder fazer bem o que faço para viver.
Aí as igrejas criaram a crença de que o que é de graça
tem muito mais valor do que o que é cobrado.
Na minha ética pessoal, quando peço desconto ou
gratuidade para algum produto ou serviço de um profissional – a menos, óbvio,
que eu não tenha realmente como pagar e realmente precise do serviço ou do
produto - nas entrelinhas o que estou
querendo dizer – e isso normalmente é inconsciente - é que eu estou desqualificando o valor do
produto ou do serviço da pessoa que colocou seu preço em função do valor que
ela o atribuiu em função do seu esforço e trabalho.
E desqualificar o valor do trabalho e o produto dele é
desqualificar a própria pessoa.
O Universo é um organismo em “mão dupla” (lembra de yin e yang?), auto regulado e auto regulador. Nada é de graça no
Universo. Tudo é na base da troca.
Uma historinha: há tempos atrás recomendei um determinado
médico para um aluno, e tempos depois ele voltou muito irado chamando o médico
de mercenário porque a consulta dele era caríssima! Já sabendo do perfil do
aluno e das crenças do coletivo em relação a dinheiro e valor, perguntei se pelo
menos o médico tinha horário na agenda prá ele, ao que respondeu irritado que
“ainda por cima a agenda dele estava cheia !!!”.
Ou seja, o aluno
antes de saber sobre o médico, sobre sua qualidade, sobre sua prática (eu sabia
que este médico atendia muito de graça para quem não podia pagar – e teria
tranquilamente dado desconto ou não cobrado do meu aluno se fosse o caso - e
dava assistência gratuita a vários asilos e orfanatos) apenas foi
preconceituoso com... o VALOR.
O “preço caríssimo” (coisa que é um critério
completamente relativo) foi a única coisa que o meu aluno enxergou.
Para mim, eu acho o máximo que um profissional tenha
qualidade técnica e poder pessoal para cobrar “caro” e ainda ter a agenda
cheia! E que paralelamente tenha disponibilidade para doar seus talentos para
quem não pode pagar. Mas esta parte o meu aluno nem conseguiu acessar, tal o seu
rígido julgamento.
Além do mais, todos sabem que ao que é ganho de graça infelizmente
dá-se pouco valor.
Fato que pode ser abundantemente comprovado por pessoas que
como eu, por exemplo, lidam e trabalham com centenas de pessoas.
Eventualmente sou chamado de mercenário porque meu
trabalho também é “caro”.
Mas quem me julga em nenhum momento se preocupa em
procurar saber que eu canso de dar bolsas para pessoas que não podem pagar, que
atendo muito de graça e que já troquei até consulta por bolo!
E ainda assim muitas delas que choramingam suas
dificuldades financeiras para obter desconto ou gratuidade, mais tarde nós vamos
ver que a pessoa trocou de carro, que viajou para o exterior, ou seja, que
economizou dinheiro às nossas custas.
Também eventualmente sou chamado de “marketeiro” porque
acho bacana se produzir bem, acho o máximo vender competentemente o seu
produto, divulgar eficientemente seu trabalho, ter site, blog, estar nas redes
sociais.
E muita gente vê isso como se botar seu produto (e a sua
imagem) na rua de forma profissional fosse uma enorme vaidade e um ato inferior
e vergonhosamente capitalista.
Posso dizer, amigos, que ao longo da minha vida conheci
verdadeiros yogues “disfarçados” de
pessoas ricas, ditas burocratas e engravatadas, ao mesmo tempo em que conheci
muitas pessoas alternativas, ecologistas e espiritualistas extremamente mal
resolvidas quanto a sua própria prosperidade e que ficam raivosamente (e muitas
delas invejosamente) rosnando contra o dinheiro, contra o sistema e contra a
prosperidade alheia..
A pessoa que desenvolveu a terapia que nós fazemos e
ensinamos dizia: “Não trabalhem de graça. Caridade se faz para quem realmente
precisa – crianças abandonadas, velhinhos em asilo, vítimas de catástrofes, por
exemplo – mas ninguém que procure este trabalho pode deixar de ser atendido por
questões de dinheiro”.
Caridade é importantíssimo, mas é importante também que
se esteja consciente do motivador da sua caridade.
Se você não é Madre Tereza ou Chico Xavier, provavelmente
sua caridade além de motivada pelo sincero e humano desejo de ajudar o próximo,
também trás em seu bojo o igualmente humano desejo de ser reconhecido e amado,
de se sentir útil, de matar o tédio, de anestesiar seus sofrimentos, de
preencher seus buracos internos.
Não tem nada de errado nisso, claro, mas é sempre bom ser
honesto consigo mesmo para não ficar se enganando desnecessariamente e não
correr o risco de crescer no ego..
É importante
frisar aqui que fomos e ainda somos “vítimas” de três ideologias
anti-prosperidade material: o cristianismo (lembra do “é mais fácil um camelo
passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”?), o
comunismo (a demonização do capital e do lucro) e o movimento hippie (que gerou
uma confusão entre simplicidade e pobreza).
- Galera, quem
inventou que dar é mais nobre do que receber, que fazer pelo outro é mais
bacana que fazer por si foi a igreja. A mesma igreja cujo inspirador maior, o Cristo,
dizia em sua máxima “Amai ao próximo COMO a ti mesmo”. Ele não falou MAIS nem
ANTES, ou seja, ninguém pode dar o que não tem.
Aí esta mesma igreja perversamente misturou auto estima, auto
valor e poder pessoal com vaidade e misturou se priorizar com egoísmo. Estratégias
que diminuem e desqualificam a auto estima coletiva para poder confundir e
dominar.
Auto valor e poder pessoal não é vaidade. Amar, respeitar
e admirar seus talentos, vocações, potenciais, capacidades, caráter e
realizações é super saudável.
A vaidade começa quando se começa a se comparar e a
querer competir e ser melhor que os outros.
Da mesma forma que priorizar-se não é egoísmo. “Eu
primeiro” vai de encontro a máxima de Jesus citada acima.
Egoísmo é “Só eu”. E é muito diferente.
Ficam por aqui as minhas opiniões. Repito, não prá
polemizar, mas para abrir um espaço para reflexão.
ERNANI FORNARI
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