sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SOBRE A SOMBRA

    A Física Quântica é a ciência das infinitas possibilidades e a ciência que estuda as interconexões entre todo o Universo.

   Segundo F. Capra, as interconexões (ou relacionamentos) tem até mais importância do que as “coisas” que se interconectam, porque estas coisas não existem como coisas inter-separadas, mas pensam, sentem, agem e vivem como  se fossem entidades separadas, e precisam se interconectar para (re)descobrirem que são Um.

    As interconexões existem para provocar o exercício de expor a sombra (que é quem fomenta a crença da separatividade) e trabalhar na direção em que vai todo o movimento universal, que é a busca do estado original de Unidade.

    Este movimento universal de homeostase, expansão e transcendência é chamado pelos hindus de Sattwa Guna.

   Todas as coisas que passamos e experienciamos na vida, imprimem uma informação psico-emocional em nosso inconsciente.

   As coisas positivas que vivemos, nossas vitórias, os reconhecimentos, o afeto e apoio que tivemos, aquilo que conquistamos, os obstáculos que superamos, tudo isso vai imprimir informações psico-emocionais “positivas” em nosso inconsciente como se fosse um software.

   Por outro lado, as perdas, as traições, as faltas, as violências, as injustiças, as carências e as derrotas, bem como nossos defeitos, falhas e imperfeições humanas, vão imprimir informações psico-emocionais “negativas”, como softwares com vírus e bugs.

   Entenda-se por positivo e negativo aqui não um julgamento moral, mas as polaridades energéticas universais. Até porque não acredito em nada que seja negativo, mau, errado ou ruim no Universo. Tudo são apenas aparências. Obstáculos para serem superados. Material de trabalho.

   Então, o que chamamos de personalidade e caráter é o resultado destas duas instâncias que poderíamos chamar de a Luz e a Sombra em nós. A parte de nós que trabalha a nosso favor e a parte de nós que trabalha “contra” nós. Aonde nós nos ajudamos e aonde nos atrapalhamos, aonde nós oferecemos resistências.

   É como se tivéssemos um jogo de futebol acontecendo em nós permanentemente. O time da Sombra e o time da Luz. E a gente fica tentando fazer com que o pessoal do time da Sombra passe prá Luz.

   Isto vem trazer diversos desdobramentos:  

   - Primeiro, a necessidade de ressignificarmos nossa Sombra – nossa natureza mais animal, nossos defeitos, falhas, erros, imperfeições, dificuldades, bloqueios, raivas, tristezas, medos, padrões e crenças limitantes e dolorosas...  e também todo nosso potencial, capacidades e talentos ainda não desenvolvidos.

   Nossa Sombra não precisa mais ser vista como um mal, como um castigo ou um estigma. Nossas dores e limitações não precisam ser mais vistas como algo inevitável e irreversível, nem como necessariamente culpa dos nossos pais, de Deus, do governo, dos patrões, do sistema, ou pior, de nós mesmos.

   Nossa Sombra é apenas o material de trabalho – pendências do passado - de que dispomos para nos aperfeiçoarmos nesta encarnação.

   O que chamamos de defeitos, falhas e erros, são na verdade nossos obstáculos, testes, exercícios, aprendizados, treinamentos, e que, diga-se de passagem, foi tudo pedido, pré-contratado, aceito e atraído por nós para nosso desenvolvimento e evolução, numa parceria perfeita, justa e inteligente com o Universo.

   Nossa Natureza Real é a Unidade, o Equilíbrio, a Harmonia, a Felicidade, a Paz, o Amor e a Luz. Já fomos construídos prontos e perfeitos, apenas sofremos de uma profunda ignorância deste fato.

   Absolutamente não somos pecadores, nem culpados e nem vitimas de nada e nem de ninguém.

   Tudo em nós que não sejam as qualidades e virtudes citadas acima, não é realmente o que nós somos. É apenas como estamos no momento, temporariamente, fruto da nossa limitada perspectiva humana. Só tem realidade virtual dentro da realidade relativa que construímos. São nossas crenças, bloqueios, padrões, auto-imagem, personas.

     No Hinduísmo, estas informações psico emocionais se chamam samskaras (impressões, que geram vasanas : caráter, personalidade, tendências) e no Alinhamento Energético chamam-se “corpos energéticos”.

     E os hindus também consideram que todas as emoções ditas negativas, emanam de uma única emoção central, nuclear, que é o medo de morrer, e que, por sua vez, também tem origem em um medo ainda mais atávico e visceral que é o medo da dissolução do ego no Todo, o medo de perder a falsa identidade individual.

 - Em segundo lugar, poderíamos dizer que a equação do crescimento pessoal é, inevitavelmente e invariavelmente : entrar na consciência do que está reprimido, resistido e defendido " aceitar (entender a função do que foi atraído como material de trabalho) " fazer um movimento para transmutar e integrar.

   Trazer para a consciência através de reflexão, meditação e/ou terapia, nossas crenças e padrões limitadores, bem como nossa Luz, talentos e potencial. Mas só trazer para a consciência não é suficiente. Temos então que...

   - Aceitar. Olhar para nós mesmos com maturidade, com neutralidade e compaixão sem comparar com nada nem com ninguém, entendendo a função do que nos acontece e aceitando que se está aqui neste laboratório planetário, neste teatro cósmico, para transformar a Sombra em Luz. Ninguém tem “cacife” para julgar ninguém, nem mesmo si a próprio.  Tentativa e erro é justamente o que temos que fazer para aprender e crescer. Trazer a Sombra para a consciência, sem a sua aceitação subsequente, pode gerar muita culpa e muito stress. E a porta para aceitação é a compreensão da função, do exercício evolutivo que determinada pessoa ou situação que atravessou nosso caminho, está nos chamando para trabalhar.

   - Finalmente, fazer um movimento para transmutar,curar, ressignificar, criar um novo padrão, expandir o que estava bloqueado, aprofundar. E o Alinhamento Energético vem como uma ferramenta altamente eficiente para promover as transmutações e ressignificações necessárias, geralmente de uma forma rápida e profunda.

   Estes são os três degraus do auto-desenvolvimento. 

   Mas é muito importante que consideremos também duas características psico emocionais fundamentais e bastante estruturais em nós, neste processo ilusório à que estamos submetidos (por nós mesmos), e que funcionam como verdadeiras armadilhas no processo evolutivo : 

- A auto-imagem - quem eu acredito que eu sou - e a persona - quem eu quero e/ou preciso que os outros acreditem que eu sou (e que está a serviço da auto-imagem para “equilibrá-la” e compensá-la).

   E temos que lidar ainda com dois profundos estados de cisão:

- A cisão externa (eu me sinto separado dos outros, da Natureza e de Deus) e a cisão interna (eu sinto a separação entre meu corpo, minha mente e minhas emoções).

   É preciso muita auto-observação, muita neutralidade, muita humildade e respeito por nós mesmos, e muito trabalho interno para podermos equacionar e integrar este atávico jogo de aparências. 
 
   Outra coisa também extremamente importante, é que re-signifiquemos o conceito e a função do chamado “Mal”.

   A função do Mal não é destruir o Bem, como muitas religiões tem colocado de forma maniqueísta.

   A função do Mal é se transmutar em Bem. O Mal é o Bem na polaridade desequilibrada, escura. A Sombra é a Luz no outro lado da moeda.

   O “Mal” é o desequilíbrio que tem que se equilibrar, a desarmonia que tem que se re-harmonizar. É o exercício, o obstáculo, os testes, as provas.
   E no processo de ressignificação do Mal temos que ressignificar também o papel do demônio, de Satanás ou do diabo.

   Imaginem se o mais alto ser da mais alta hierarquia angélica – Lúcifer (aquele que traz a Luz) – ia ser tomado por uma emoção tão humana e terrena como a inveja !!! Nem os anjos da primeira hierarquia tem emoções humanas. E aí este mega-anjo caiu e virou um ser em guerra com Deus e ainda arrastou uma turma grande com ele...

    Só pode ser mito e como mito deve ser interpretado.

    Lúcifer (que também trabalha na Egrégora do Ministério de Cristo), é o Ser de Luz que promove os obstáculos e exercícios necessários para o crescimento e a expansão de toda a Criação. É Deus que aceitou descer aos infernos e à Sombra do homem para ajuda-lo à resgatar sua Luz.

    Na Mitologia Hindu, os demônios são sempre grandes devotos de Deus (em geral de Shiva), e sempre são liberados quando Deus (geralmente Vishnu) os mata.

    Imagine, por exemplo, um atleta de ponta de nível olímpico. Vamos dizer que seja um saltador em altura. O que ele faz ? Contrata um treinador que coloca a vara em determinada altura.

    Aí este atleta treina duro durante meses, com disciplina espartana até que consegue saltar. Quando ele salta e está lá todo feliz e orgulhoso, seu treinador sorri e... levanta um pouco mais a vara, e começa tudo de novo.

     Por acaso este treinador significa o mal para o atleta ? Será que ele está trabalhando contra ele ? O saltador deve ficar com raiva do treinador ?

     Então, costumamos dizer de brincadeira que quando Deus faz reunião de ministério, quem está sentado à sua direita é Jesus, e à sua esquerda é Lúcifer, o “grande treinador”.

     Claro que existem as regiões infernais. Claro que ao desencarnar muita gente vai para estes locais. Mas estes locais não são nada mais que projeções do nível vibratório e evolutivo interno da própria pessoa. O inferno e o Céu estão sempre dentro do homem.

    Portanto, não desqualifique sua Sombra. Não diga “que droga, fiquei com raiva”, “estou com um medo horrível”, “que tristeza terrível”.  Não negue, nem menospreze nem maldiga as emoções chamadas negativas.

   Aceite a sua inveja (in-veja, veja dentro o potencial que você pensa que só o outro tem), seus ciúmes, seus apegos, suas fraquezas. Olhe para elas com a visão da Águia – com neutralidade, equanimidade e compaixão.

    Também não procure fugir da sua Sombra focando na Sombra do outro, porque ao fazê-lo você só estará vendo a sua própria Sombra na Sombra do outro.  

    Conscientize, observe, sinta, perceba o aprendizado que você atraiu através destas emoções e sentimentos, transforme-se e libere-as. Senão elas ficarão se repetindo (e com intensidade progressivamernte aumentada) até que você faça algum movimento interno de liberação. 
 
   Grande parte das informações psicosemocionais positivas e negativas que construíram nossa personalidade e caráter foram enraizadas na infância, justamente numa época da vida em que temos poucas condições de compreender de uma forma ampla e profunda o sentido e a função do que nos aconteceu, e as circunstâncias complexas em que os eventos ocorreram – não sabíamos, por exemplo, que não éramos o centro do mundo e que nossos pais não eram perfeitos.

   Neste caso, o que fica mais contundente é o que se sente, dentro da perspectiva estreita do que se compreende.   

   Até porque muito antes de pensar nós já sentíamos.

   Uma criança, por exemplo, que sofre violências do pai, não tem condição de avaliar que o pai também tem suas questões, suas dores e doenças, que também teve pais que tiveram pais...  

   O que fica marcado criando o trauma é o fato em si e seu sentimento. 
 
   A criança funciona dentro de uma “lógica”, uma equação simplista, mas geradora de toda uma série de sofrimentos emocionais : “se fizeram isto comigo é porque não gostam de mim. Se não gostam de mim, é porque não sou bom“.

   Porque visceralmente necessitamos – e buscamos isso desesperadamente – sermos aceitos, reconhecidos e amados. E para receber isto, para nos sentirmos pertencendo, “fazemos qualquer negócio”, nos tornamos rigidamente perfeccionistas, ficamos neuroticamente “bonzinhos”, só pensamos nos outros e esquecemos de nós, e nos deixamos “prostituir”, cedendo excessivamente nosso tempo, dinheiro, ouvido, paciência, trabalho, até sexo, em troca do que necessitamos.

   E como o cérebro não reconhece a diferença entre o que aconteceu no passado e o que aconteceu hoje (Freud teria adorado saber disso!), as informações dolorosas ficam sendo permanentemente atualizadas, e o conjunto destas informações  são hoje as nossos traumas, crenças, padrões limitadores e bloqueios.

    Ficamos carregando conosco todas as crianças sofridas que fomos como se ainda as fossemos.

    Quase tudo fruto de equívocos de perspectiva que mantém as emoções e a psique desequilibradas.

    Precisamos liberar nossas crianças sofridas, devolvendo-as felizes ao passado, e passando a encarar e a lidar amorosamente com a Sombra como nosso precioso material de trabalho evolutivo.

   É o primeiro passo para amar a si mesmo, que é o primeiro passo para amar ao próximo e ao Universo.


ERNANI FORNARI

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