sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SUBSTITUINDO O OU PELO E

Nossa civilização ocidental que se construiu toda referenciada no pensamento racional e analítico, enquadrou nossa visão de mundo em um rígido paradigma cartesiano e mecanicista que a cultura oriental, o Xamanismo , a Física Quântica e as linhas transpessoais da Psicologia tentam em conjunto libertar.

Holístico e sistêmico são duas palavras modernas que refletem uma velha/nova compreensão da vida :  quem quer que seja Deus é um único organismo consciente e inteligente do qual somos “partes” interligadas, interconectadas, interagentes e interdependentes como uma  verdadeira teia viva e magneticamente pulsante.

Dentro desta perspectiva multidimensional de infinitas possibilidades podemos dizer que somos muitos dentro de nós.

Temos rigorosamente todo o Universo dentro de nós. Em todos os níveis, do material ao simbólico/arquetípico.

Temos dentro de nós todos os elementos da Natureza, carregamos em nosso DNA toda a informação desde os primórdios da Criação e trazemos em nosso interior potencialmente todas as qualidades e virtudes que acabaram sendo expressas antropomorficamente nas diversas mitologias criadas pela humanidade como deuses, orixás, anjos, etc.

Desta forma, talvez precisemos substituir o OU pelo E.

Por exemplo, o que está acontecendo ao planeta hoje está profundamente desequilibrado, claro, qualquer pessoa sensível e informada sabe disso.

 Mas simultaneamente nada do que está acontecendo está exatamente errado. Errado e desequilibrado são coisas bem diferentes e precisam ser separadas como conceito.

 Se formos achar que as coisas que estão acontecendo estão erradas, teremos que presumir que Deus se esqueceu de nós, ou que Satanás foi mais eficiente que Ele, ou ainda que o ser humano tem um livre arbítrio tão fantasticamente poderoso a ponto de atropelar a ordem cósmica ao seu bel prazer.

Isso talvez venha emergencialmente resgatar para nossa cultura ocidental conceitos nucleares de algumas antigas religiões expressos por exemplo no TaoTeKing (ação na inação e inação na ação) e na Bhagavad Gita.

É o fio da navalha entre o não ser omisso e agir da melhor forma possível, e ao mesmo tempo compreender que não estamos aqui para fazer nada além de descobrirmos e re-experienciarmos quem realmente somos – a Unidade.

A simples e ao mesmo tempo extremamente complexa idéia de agir competente e eficientemente com neutralidade e sem apego, e simultaneamente nos desapegarmos e sermos neutros sem sermos indiferentes ou omissos.

Me parece ser importante (e urgente) também re-significar o paradigma maniqueísta ainda vigente onde temos que optar entre ser bons OU maus, feios OU bonitos, mocinhos OU bandidos, pecadores OU virtuosos, e por aí vai, como se fossemos máquinas coerentes e analógicas.

Segundo as tradições antigas, somos bons E maus, mocinhos E bandidos, pecadores E virtuosos. Pois trazemos todas as qualidades potencialmente “morando” dentro de nós, e que só precisam de determinados contextos e situações para que estas facetas se expressem de uma ou de outra forma.

As vezes como santos, as vezes como pecadores. As vezes como mocinhos ou as vezes como bandidos.

Talvez uma compreensão profunda deste fato venha desenvolver uma maior compaixão entre os seres humanos.

Importante frisar que compaixão não é pena nem complacência. Compaixão, entre outras coisas, é considerar amorosamente que se você estivesse no lugar do outro talvez tivesse feito igual.

ERNANI FORNARI




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