SUBSTITUINDO
O OU PELO E
Nossa civilização ocidental que se construiu toda
referenciada no pensamento racional e analítico, enquadrou nossa visão de mundo
em um rígido paradigma cartesiano e mecanicista que a cultura oriental, o Xamanismo
, a Física Quântica e as linhas transpessoais da Psicologia tentam em conjunto
libertar.
Holístico e sistêmico são duas palavras modernas que
refletem uma velha/nova compreensão da vida :
quem quer que seja Deus é um único organismo consciente e inteligente do
qual somos “partes” interligadas, interconectadas, interagentes e
interdependentes como uma verdadeira
teia viva e magneticamente pulsante.
Dentro desta perspectiva multidimensional de infinitas
possibilidades podemos dizer que somos muitos dentro de nós.
Temos rigorosamente todo o Universo dentro de nós. Em
todos os níveis, do material ao simbólico/arquetípico.
Temos dentro de nós todos os elementos da Natureza,
carregamos em nosso DNA toda a informação desde os primórdios da Criação e
trazemos em nosso interior potencialmente todas as qualidades e virtudes que
acabaram sendo expressas antropomorficamente nas diversas mitologias criadas
pela humanidade como deuses, orixás, anjos, etc.
Desta forma, talvez precisemos substituir o OU pelo E.
Por exemplo, o que está acontecendo ao planeta hoje está
profundamente desequilibrado, claro, qualquer pessoa sensível e informada sabe
disso.
Mas simultaneamente
nada do que está acontecendo está exatamente errado. Errado e desequilibrado
são coisas bem diferentes e precisam ser separadas como conceito.
Se formos achar
que as coisas que estão acontecendo estão erradas, teremos que presumir que
Deus se esqueceu de nós, ou que Satanás foi mais eficiente que Ele, ou ainda
que o ser humano tem um livre arbítrio tão fantasticamente poderoso a ponto de
atropelar a ordem cósmica ao seu bel prazer.
Isso talvez venha emergencialmente resgatar para nossa
cultura ocidental conceitos nucleares de algumas antigas religiões expressos
por exemplo no TaoTeKing (ação na
inação e inação na ação) e na Bhagavad
Gita.
É o fio da navalha entre o não ser omisso e agir da
melhor forma possível, e ao mesmo tempo compreender que não estamos aqui para
fazer nada além de descobrirmos e re-experienciarmos quem realmente somos – a
Unidade.
A simples e ao mesmo tempo extremamente complexa idéia de
agir competente e eficientemente com neutralidade e sem apego, e
simultaneamente nos desapegarmos e sermos neutros sem sermos indiferentes ou
omissos.
Me parece ser importante (e urgente) também re-significar
o paradigma maniqueísta ainda vigente onde temos que optar entre ser bons OU
maus, feios OU bonitos, mocinhos OU bandidos, pecadores OU virtuosos, e por aí
vai, como se fossemos máquinas coerentes e analógicas.
Segundo as tradições antigas, somos bons E maus, mocinhos
E bandidos, pecadores E virtuosos. Pois trazemos todas as qualidades
potencialmente “morando” dentro de nós, e que só precisam de determinados
contextos e situações para que estas facetas se expressem de uma ou de outra
forma.
As vezes como santos, as vezes como pecadores. As vezes
como mocinhos ou as vezes como bandidos.
Talvez uma compreensão profunda deste fato venha
desenvolver uma maior compaixão entre os seres humanos.
Importante frisar que compaixão não é pena nem
complacência. Compaixão, entre outras coisas, é considerar amorosamente que se
você estivesse no lugar do outro talvez tivesse feito igual.
ERNANI FORNARI
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