A CULPA DO NEPAL
Logo em seguida a terrível tragédia que se abateu sobre o
Nepal destruindo um rico patrimônio histórico, religioso e cultural e tirando a
vida de milhares de pessoas, várias teorias rapidamente apareceram para
explicar as origens e os motivos do sinistro evento.
E foram basicamente duas vertentes de teorias: Uma, as
esotéricas (na minha opinião pseudo esotéricas) que atribuíam um “castigo
divino” não só pelo fato dos nepaleses matarem búfalos para comer e até pelas
escaladas no Everest.
Outra, as explicações meramente geológicas e ambientais
ou seja, que os sérios desequilíbrios ecológicos mundiais estão produzindo
efeitos catastróficos em vários locais do planeta.
E fico eu aqui tentando cruzar as duas possibilidades
dentro daquilo que acredito e que penso que leituras mais sérias dentro da
espiritualidade e das terapias podem oferecer.
Quanto a primeira possibilidade, honestamente não
acredito mais em castigo divino, azar, culpa, sabotagem de Satanás, luta
cósmica do bem contra o mal, essas coisas.
Nem acredito que a Lei do Karma seja como foi entendida e
absorvida pelo mundo ocidental, ou seja, que é uma espécie de Lei de Newton que
funciona na base do “bateu – levou”. Ou pior, que é sinônimo de azar (“que
karma, heim?”).
Acredito na perspectiva que modernamente chamamos de
holística e sistêmica, que é a perspectiva que tem sido desenvolvida há
milênios pelas culturas orientais e nativas, isto é, que a Criação é uma grande
teia holográfica consciente e inteligente, e totalmente interligada,
interdependente e interagente.
Aí talvez a Lei do Karma seja uma lei de causa e efeito
multidimensional (e não cartesiana e mecanicista como ficou entendida por aqui)
que atua promovendo a homeostase inteligente do Universo.
Não acredito nem compartilho mais do olhar maniqueísta (e
simplista) que estabelece vítimas e culpados.
Acredito, já que a existência é um organismo
auto-regulador, que tudo o que acontece na vida tem uma função evolutiva e é
estabelecido em função de um comum acordo entre todos os envolvidos nos
eventos.
Claro, seria um
loucura pensar que as vitimas da catástrofe no Nepal toparam conscientemente
passar por isso.
Seria loucura sim, mas dentro de um olhar estritamente
científico ou a partir de um olhar das religiões ocidentais centradas na culpa
e no pecado.
De fato, foi um evento terrível que produziu milhares de
vítimas, entre mortos e feridos, e muita destruição.
Mas este olhar é apenas um olhar que enxerga a
superfície, que enxerga apenas os efeitos visíveis.
Claro que o evento deve ter acontecido em função ou de
causas que são características geológicas naturais daquele local ou que foram
precipitadas em função dos desequilíbrios ambientais globais.
E isso também, na minha opinião, é apenas uma outra
leitura superficial, que enxerga apenas as causas físicas.
Considerando e amarrando tudo isso e tentando
descaracterizar as perspectivas de castigo divino e de azar ou acaso, tento
inserir aqui as ideias que coloquei acima.
Não para tentar entender e julgar, pois a mecânica e a
fisiologia auto reguladora universal estão totalmente fora do nosso
entendimento e controle dada sua extrema complexidade constitucional e
operacional, mas para abrir um novo olhar para outras possibilidades que
acalmem um pouco os nossos corações e as nossas mentes.
Já que não nos é possível entender e explicar o que
aconteceu, fica aqui a possibilidade de que o que ocorreu foi uma terrível
tragédia sim, provavelmente oriunda dos descaminhos ambientais que o homem tem
ajudado a produzir na Terra sim, mas de forma nenhuma sem uma causa sistêmica
maior (e extremamente complexa), que não passa por azar e castigo, e sim, por
um movimento kármico inteligente e auto regulador, onde, em algum nível, todos
são co-criadores e co-participantes, e com certeza, com uma profunda função
evolutiva humana e planetária.
ERNANI FORNARI
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