sexta-feira, 26 de junho de 2015

A PROSTITUTA, O LADRÃO, O VAMPIRO, O ESCRAVO E O MENDIGO
(Qual destas personas você usa mais para tentar ser feliz?)

Como um dos principais efeitos psico-emocionais nocivos oriundos dessa nossa cultura cristã-ocidental onde aprendemos que somos pecadores e culpados de nascença, e que precisamos trabalhar muito para construir um ser humano digno de ser aceito por Deus no Paraíso – e levando-se em conta o pesado componente dificultador que é o fato de que há um Satanás “fungando no seu cangote” a espreita constante para melar este projeto - está a “lógica” inconsciente que infere que “se eu congenitamente não sou e nem tenho, preciso buscar isso (o ser e o ter) fora de mim”.

Esta forma de pensar e de lidar com a vida é bastante diferente, por exemplo, do pensamento oriental onde o ser humano, que muito ao contrário de ser um nada e um ninguém congênito, é criado perfeito, eternamente livre e pleno, padecendo apenas da ignorância temporária deste fato, devendo portanto dedicar sua vida à despertar e realizar em si esta plenitude e liberdade eterna sempre existente.

Muito diferente - em todos os sentidos - de se ter sido criado pecador e culpado.

Isto desenvolveu na mente coletiva da nossa cultura uma baixa auto-estima e uma menos-valia enorme – interessante apenas para quem pretendia exercer dominação - onde o desconhecimento de que somos apenas ignorantes da nossa natureza real, e não deficientes humanos e espirituais, fez com que fossemos desesperadamente buscar fora de nós o que já tínhamos dentro e não sabíamos.

Nosso amor, nosso poder pessoal, nossa alegria, nossa coragem, nosso tesão de viver e criar, e todas as virtudes, qualidades e potenciais existem inerentemente no ser humano desde sempre.

Ninguém pode roubar de nós nem nós podemos perder esse patrimônio constitucional eterno que trazemos em nossa essência humana e espiritual.

Mas podemos perfeitamente ignorar – e consequentemente sub dimensionar e subutilizar - tudo isso, como de fato o temos feito há 2000 anos pelo menos, e passar a nos considerar e viver como seres que Deus não terminou de fazer.

E aí vivemos como eunucos.

E precisamos sair por aí ancorando nossos buracos internos, nossas carências, nossos medos e fragilidades aonde podemos.

Na família, no casamento, nas amizades, no trabalho, no dinheiro, no poder, nos objetos.
Frequentemente recebemos no consultório pessoas que de repente se sentem no vácuo, que tem seu “tapete puxado”, que ficam sem chão, porque os filhos saíram de casa, ou porque se separaram ou enviuvaram, ou porque foram demitidos ou se aposentaram, ou porque roubaram o seu carro, e por aí vai.

Trabalho, objetos e relacionamentos tem função específica na vida.

Trabalho é o veículo para expressarmos nosso potencial e talentos, contribuir para o presente, deixar um legado para o futuro e receber remuneração e reconhecimento por isso. Objetos são para nos servir como ferramentas facilitadoras do viver. E relacionamentos são para reproduzir, trocar afeto e vivências evolutivas.

Mas em nosso desespero existencial acabamos extrapolando e ancorando nestas coisas e/ou pessoas muito mais do que seria saudável, e porque não dizer, inteligente.

E é claro que jogar âncoras em terreno transitório e impermanente, como é tudo isso aí que eu citei acima, é como “crônica de uma morte anunciada”, ou seja, é estratégia fadada a naufragar assim que o objeto do ancoramento desaparece do mapa por algum motivo.

E para jogar estas âncoras, ou em outras palavras, para prender os meus tentáculos carentes e famintos, eu acabo me utilizando de certos personagens míticos internos, de pequenos arquétipos funcionais que aqui, a titulo de exercício e reflexão, eu chamei de “a prostituta, o ladrão, o vampiro, o escravo e o mendigo”.

São atitudes estratégicas funcionais das quais vou lançar mão para tentar obter e manter aquilo – segurança, auto-estima, amor próprio, poder pessoal, alegria de viver, reconhecimento, respeito, etc. etc. - que não aprendi que eu deveria era estar trabalhando para manifestar de dentro de mim.

É claro que o outro é importante. É fundamental.

Mas não para nos dar o que pensamos que não temos, ou nos fazer sentir ser o que pensamos que não somos.

Nem os Seres de Luz como os Gurus, Anjos, Orixás, Devas hindus ou os Santos, podem nos dar o que já temos ou nos tornar o que já somos.

A função destes Seres é nos ajudar a perceber e realizar que já somos quem nós buscamos ser, e que já estamos no lugar para onde estamos nos dirigindo.

E a função do outro - além de fazer o espelhamento necessário para que eu, através da conexão e do relacionamento com ele, e através da sincronicidade e da ressonância que fomentam e permeiam estas conexões e relacionamentos, acesse material inconsciente ainda em sofrimento e limitação e trabalhe as minhas questões pendentes - é trocar.

Trocar conhecimentos, vivências, experiências, afeto, prazer, cumplicidade, solidariedade.

Manter aqueles cinco personagens - a prostituta, o ladrão, o vampiro, o escravo e o mendigo - dá muito trabalho e demanda muita energia. Inutilmente. Pois fatalmente acaba desembocando em mais decepção, frustração e sofrimento, além de eventualmente prejudicar o(s) outro(s).

Melhor usar esta energia e este trabalho no sentido de se abrir o olhar interno para acessar e liberar os potenciais, talentos e capacidades inerentes ao ser humano.

Melhor usar o tempo, os neurônios e a energia bio-psico-emocional instrumentalizando-se com ferramentas e estratégias que efetivamente materializem e operacionalizem na vida prática a essência que vive aparentemente adormecida ou sub utilizada em cada um de nós.

Como? Quer uma lista? Por exemplo: terapias (só aí já dá uma lista enorme), meditação (também tem diversos tipos e estilos), Yoga (idem), trabalhos xamânicos (idem), e por aí vai.

São com certeza ferramentas muito eficientes para efetivarmos a nossa alforria dos grilhões que nós mesmos criamos.

Aí não precisaremos mais convocar aquele time dos cinco personagens para trabalhar para nós.

ERNANI FORNARI





Nenhum comentário:

Postar um comentário