SOBRE A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
( ou COMPREENDER, CONCORDAR E RESPEITAR)
Eu tive um professor que dizia que a humanidade é como um bolo onde Deus
é aquele furo no centro do bolo e cada religião seria um fatia do bolo.
O problema é que fica cada fatia querendo convencer o resto do bolo de
que ela, fatia, é o bolo inteiro. Interessante como o ser humano há milênios
vem guerreando e se degladiando ferrenhamente pelo que não concorda - que em
termos de religião, cá entre nós são os aspectos mais desimportantes, isto é, o
nome do meu Deus, minha concepção Dele, meu livro sagrado é tal e é o único
verdadeiro, meu mestre ou avatar é tal e é o único e o melhor, e por aí vai.
Curiosa essa tendência do homem de investir pesado na exclusão, na
divisão.
Talvez a chave para essa cura não seja nem ter religião nenhuma nem ter
uma só religião para todos - acho as duas possibilidades fantasiosas - mas sim
o simples e vital fato de pessoas de uma religião conseguirem perceber e
aceitar que as outras também são tão verdadeiras e certas quanto a sua.
Muito doida essa mania de se querer ter exclusividade.
Se Deus criou a diversidade, um planeta com bilhões de espécies de todos
os reinos, um monte de raças e culturas com milhares de idiomas e
características históricas, geográficas, sociológicas e antropológicas
diversas, é totalmente irracional e bastante pouco inteligente achar que uma só
religião vai servir para todos, e mais irracional ainda é querer estabelecer
isso na marra...
Por outro lado cresce cada vez mais a compreensão de que é muito mais
bonito, pacífico e inteligente os diversos caminhos compartilharem naquilo que
concordam, e não ficar brigando pelo que discordam.
E se tirar o desimportante e o superficial das religiões (que é aonde as
pessoas mais se apegam), todas elas concordam muito mais do que discordam, pois
o Deus de todas é o mesmo e os princípios mais básicos e fundamentais também.
Dentro dessa temática, me parece que três componentes são
fundamentais serem devidamente destrinchados para serem corretamente
entendidos:
Compreensão, aceitação (vou chamar aqui de aceitação o
ato de concordar) e respeito.
Para verdadeiramente se respeitar – e vamos nos ater aqui
ao tema religião – não é preciso concordar, mas é preciso compreender.
Compreensão é entender o ponto de vista do outro, é
entender as características, as motivações, os contextos e os referenciais do
outro.
Quando avaliamos uma outra religião ou uma outra cultura
usando como parâmetro os nossos próprios referenciais, o que estamos
exercitando é julgamento, o que normalmente acaba descambando em crítica e
condenação.
Para compreender o outro é necessário, como dizem os
índios norte-americanos, vestir o mocassim do outro.
É preciso considerar, como disse acima, o universo do
outro com seus contextos e características próprias, como um cientista que
busca conhecer o que está analisando, com neutralidade e isenção.
Respeitar sem compreender não é respeitar. É tolerar, no
pior sentido do termo. É engolir, aturar, suportar.
Respeitar não é necessariamente concordar. Respeitar é
reconhecer valor no outro.
E eu só posso reconhecer valor quando eu compreendo.
Talvez o ser humano precise desenvolver a habilidade de
compreender mesmo não concordando.
Daí talvez surja o verdadeiro respeito.
ERNANI FORNARI
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